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Dia das Mães 2013 - Eu tive depressão pós parto e agora não é mais segredo

domingo, maio 12, 2013

Hoje é dia das mães e tanta coisa pra falar...

Mais um dia que eu passo ao lado dos meus filhos!!! Isso já me basta.

Ser mãe é uma coisa muito complicada. Filhos deveriam vir com manual de instruções. Já sou mãe há 12 anos quando minha filha Bárbara veio ao mundo.

Minha gravidez foi ótima. Passei muito bem, exceto pelos 3 meses que eu batia cartão na Santa Casa para tomar soro, pois nada me parava no estômago. Fora isso, fiz ginástica até o dia da Bárbara nascer. Eu fazia natação e ginástica localizada. As pessoas ficavam arrepiadas de me ver com aquele barrigão. Achavam que eu poderia entrar em trabalho de parto a qualquer hora.

Bárbara nasceu às 21h30 e quando a ouvi chorar, foi algo mágico. Adrenalina a mil. Até então você sabe que tem algo dentro de você. Mas quando você vê aquele ser perfeito sair de dentro de você... É algo que só tendo outro para sentir.

Ela chorava, chorava e quando meu pai a trouxe para eu vê-la, eu perguntei: "Porque você demorou tanto para nascer?" - Eu havia tentado parto normal desde às 15h00 e nada. - Na hora ela parou de chorar. Parecia que me conhecia.




No outro dia quando a segurei nos braços pela primeira vez, senti algo estranho. Um ódio e ao mesmo tempo uma raiva. Porque eu tinha que amar tanto alguém que tinha acabado de conhecer? Foi aí o início da minha depressão pós-parto.

As pessoas começam a chegar pra te visitar no hospital mesmo. Eu nem tinha saído do soro, da sonda e meu quarto cheio. Aì vem gente perfumada, cheirando cigarro, com batom... Todo mundo pega o nenê, beija, sacode... E você (a parideira) fica lá assistindo tudo isso com uma raiva tremenda. Ninguém quer saber se você está bem, se você está com dor.

Eu fiquei muito sozinha. A fase de cólicas nos cansa muito. O nenê acorda várias vezes pra mamar, a cirurgia dói. Vc não dorme à noite, não quer receber visitas... E as pessoas não se tocam. Aparecem na sua casa para fazer churrasco. Esperam o nenê acordar para conhecer. Todo mundo quer pegar... Aff...
A depressão da Bárbara passou logo. Eu nem cheguei a comentar com ninguém. Mas várias noites chorei sozinha. Com medo de que pudesse perdê-la. Quando ia agasalhá-la, chorava pensando nas mães que não tem como agasalhar seus filhos, que dormem na rua junto com eles. Na hora de amamentar chorava também. Pensava nas mães que não tem o que comer e não produzem leite para amamentar... Me sentia culpada por ter gerado um filho, com tantas crianças abandonadas por aí.
Tudo passou sem que eu percebesse. Bárbara começou a crescer, andar, falar e eu engravidei do Ives.
Gravidez tranquila, exceto os 3 primeiros meses. rsrsrsrsrs
No 5º mês de gestação quando Ives começou a mexer, eu entrei em pânico. Comecei a por na cabeça que não queria que ele saísse de dentro de mim. Pra mim, filho era só perda. Sai da barriga, sai do peito, sai do colo... Eu não queria sentir aquilo de novo.
Chegou o dia dele nascer e eu fui contrariada para o hospital. Não queria. Assim que eu ouvi seu choro, comecei a chorar junto. Senti a mesma emoção de quando Bárbara nasceu. Quando o vi, aqueles olhinhos pretos... Meu pai o colocou no meu peito e logo ele parou de chorar. Mas fiquei com medo do dia em que eu o seguraria para a primeira mamada.

No dia seguinte quando a enfermeira o trouxe, senti o mesmo ódio, a mesma raiva. Porque amar tanto alguém que acabei de conhecer? Quando vi a janela aberta, pensei: "Se eu jogá-lo pela janela, será que ele morre logo?" - Imediatamente comecei a rezar e chamei meu pai. Meu pai foi atrás do médico psiquiatra e eu comecei a fazer terapia.

Só que tudo o que eu queria, era ficar em paz com o meu bebê. As pessoas vinham visitar, queriam pegar, beijar, dar banho... Eu carreguei por 9 meses, eu queria segurar, eu queria dar banho. Será que ninguém entendia isso?

Bárbara com apenas 2 aninhos regrediu em algumas fases. Voltou a chupar chupeta, a usar fralda, queria dormir no carrinho. Eu queria tomar conta dos meus bebês.

Essa fase de depressão durou uns 2 meses até que eu não aguentei mais. Eu pensava loucuras e tinha pensamentos suicidas, que resolvi ir além da terapia. Tirei o Ives do peito e me intrenei por uma semana no hospital. Tomei 7 tipos de remédios. Fiquei completamente dopada. Foi uma fase difícil. Ainda mais que as pessoas falam que depressão é coisa de quem não tem o que fazer, e blá, blá.

Me tratei por 2 anos com remédios anti depressivos. O médico foi diminuindo as doses gradativamente, até que eu ficasse sem.

Por isso eu não condeno essas mães que jogam seus filhos nos rios, abandonam em sacos de lixo, etc... Eu várias vezes pensei algo parecido. Mas não por não amá-los. Mas pelo medo de não dar conta da responsabilidade. Pelo medo do futuro. Do que poderia acontecer com eles. É um momento de desespero total. Quando você olha para aquele ser totalmente dependente de você... A insegurança é tanta que eu pensava: "Se algo acontecer com ele, jamais vou me perdoar." - Enfim tudo passou.

Hoje não sou uma mãe protetora. Achei que ia ser. Mas doeu muito quando meu filho veio com uma mordida da escola. Doeu muito quando Bárbara foi a única não convidada para uma festa de uma amiga. Doeu muito quando Ives perdeu o campeonato de futebol e aos prantos me questionou: "Você ainda disse que eu jogava bem. Você é uma mentirosa." - Como fazer uma criança entender que um time é formado por 11 jogadores e que ele não joga sozinho?

Doeu muito quando Ives quebrou a perna com 3 anos e eu tive que carregá-lo no colo por 3 semanas. Pensei nas mães que tem seus filhos deficientes e carregam seus filhos no colo pelo resto da vida.

Doeu muito quando Bárbara emagreceu 3 quilos em dois dias por causa de uma virose e foi para o hospital tomar soro. As enfermeiras não conseguiam pegar sua veia de tão fraca que ela estava. Uma volta pelo hospital, encontrei uma mãe cuja filha estava com leucemia e a pobre criança vivia levando agulhadas.

Hoje Bárbara está com 12 anos e Ives com 10. Sofro pelo que não aconteceu. Temo pelas drogas, pela violência, pela escolha certa da carreira profissional...


Mas sem eles, minha vida não teria sentido. Ser mãe é algo extremamente compensador. Você engorda, fica com um corte na barriga, não dorme nunca mais como antes... Mas compensa. É um dar-se sem querer nada em troca. É o amor mais puro do mundo. É um amor louco, pelo qual você mata e morre.
Às vezes perdemos a paciência quando eles nos questionam sobre algo que jamais imaginamos que eles pudessem nos questionar.

Se eu passaria por tudo novamente? COM CERTEZA!!!!

Hoje minha oração vai para todas as mamães que não podem comemorar este dia com seus filhos, ou porque foram morar com Deus ou porque os filhos foram antes. Tornar-se mãe, é decidir ter pra sempre um outro coração batendo fora do corpo. Essas mães que não tem seus corações por perto, que não podem abraçá-los, beijá-los... Isso dói em mim também.
Minha oração também vai para as mamães das vítimas da boate Kiss.
Minha oração também para as mamães que moram na rua, que são surdas, são cegas, negras, estão na cadeia, sequestradas, em coma, que deixam seus filhos de madrugada na creche para irem trabalhar, que são cadeirantes, amputadas, enfim todas que são mães e amam seus filhos mais que a prórpia vida... Mães que cuidam de suas crias e as defendem como leoas.

Que Deus abençoe todas vocês

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