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Cão-guia: mobilidade aos cegos
Os cegos estão em alta. Recentemente houve ampla propagação na novela global sobre o uso do cão-guia pelo personagem Jatobá, vivido pelo ator Marcos Frota. Agora, encontra-se em processo de regulamentação a Lei nº 11.126, que dispõe sobre o uso, circulação e permanência do cão-guia em ambiente público e coletivo. Até o último dia 20 de março, esteve em consulta pública, um texto para a emissão do decreto que validará a lei, emitida no ano passado. Em tese, fica estabelecido que a pessoa com deficiência visual, usuária de cão-guia, poderá adentrar, circular e permanecer acompanhado de seu cão nos ambientes de uso coletivo.
A sociedade já se prepara para a nova realidade. Nos supermercados, enquanto os cães domésticos devem ser deixados na porta, sem permissão para adentrar ao estabelecimento, os cães-guias, ao contrário, devem acompanhar seus donos. No Carrefour, conhecida rede de hipermercados, a mudança já foi incorporada. A atendente do “Serviço Amigo do Cliente” (SAC), Léia Cristina, informa que o consumidor cego está autorizado a entrar em suas lojas com seu cão-guia. “Estamos preparados para receber o usuário de cão-guia”, diz a atendente, acrescentando que a rede está ciente da lei concedida aos “deficientes físicos”, referindo-se ao benefício concedido às pessoas com deficiência sensorial.
RAÇA Um cão-guia deve reunir algumas características importantes como: ser sociável, inteligente, saber cumprir ordens e também desobedecê-las (se não partirem do dono), ser atento, paciente, companheiro, enfim, apresentar temperamento equilibrado. A raça que apresenta essas características em maior número de exemplares é a labrador. Na opinião de Sandra, um cão-guia não pode ser medroso nem tímido, pois quando adulto e guiando, encontrará situações que exigirão calma e determinação. Também não pode ser um animal de pequeno porte, pois, seu peso leve não apresenta condições de transmitir mensagem clara com seu corpo, ao se desviar de um buraco, por exemplo. A raça pastor alemão, por outro lado, tem grande porte mas perfil de extremado protetor, e pode criar situações difíceis para seu usuário, impedindo a aproximação de outras pessoas. Por ser um cão de trabalho, a maioria dos cães-guias é castrada. Quando está em serviço, não deve ser interpelado pelas pessoas na rua, sob o risco de distrai-lo. Só se deve mexer ou conversar com um cão-guia mediante prévia autorização de seu dono.
O cão nosso de cada dia
No Brasil, ainda não é muito difundido o uso do cão-guia, mas quem o utiliza no dia-a-dia é taxativo ao dizer que se tornou imprescindível para a sua mobilidade. A professora e consultora, Ethel Rosenfeld, é um exemplo. A vontade de conquistar maior mobilidade, sair com mais freqüência e com mais independência a levou a ter um cão-guia, o Gem, um labrador amarelo que já está com cerca de dez anos de idade. Ela define sua relação com Gem como “simbiótica, de muito amor, cumplicidade, confiança e dependência (física e emocional)”. Apesar da mútua simpatia, a relação de confiança, essencial para a parceria, se deu após mais de um ano de convivência.
Quando questionada sobre as limitações de seu cão-guia, ela diz que “ele não tem limitação alguma, quem as tem sou eu”. O cão de Ethel, há dois anos, sofreu um câncer, superado após cirurgia e sessões de quimioterapia. “Durante essa fase, conhecemos muitas pessoas maravilhosas, cheias de carinho que muito colaboraram para ‘nossa cura’. Digo nossa, porque eu também estava doente”, afirma. Apesar do sofrimento, Ethel é enfática em exaltar as qualidades de Gem, como guia. “Tenho a facilidade de ir, sozinha (quero dizer, com ele) aonde quero e preciso, na hora que me interessa e com muita tranqüilidade e segurança. Tenho a certeza de que não me acidentarei. Sempre que percebo que Gem me desviou de uma poça d’água, buraco, ou qualquer obstáculo, fico emocionada e me abaixo, abraçando-o, em agradecimento”, conta, acrescentando ser maravilhoso ter um companheiro 24 horas por dia, todos os dias, com a ressalva que “um cão é um ser vivo, não é o mesmo de chegar em casa com a bengala e simplesmente deixá-la atrás da porta”. Concorda com ela, a médica Maria Regina Melchert de Carvalho e Silva.
Ela afirma que um cão-guia dá muito e pede pouco, mas não é uma bengala de quatro patas, que se guarda no armário quando se chega em casa. “Ele faz parte de nós em todos os momentos”, diz. Regina está com o segundo cão-guia, o Ascheley, um retriever dourado (golden retriever, uma espécie de cão-de caça da raça labrador), hoje com seis anos de vida, após Merlin, um labrador preto, que fez parte de sua vida desde 1993 e a deixou há um ano, com quase 12 anos de idade. Regina afirma que possui um entendimento com seu cão “quase que total”. “É uma relação deliciosa de interdependência, que só tem um defeito, e dos grandes: cães vivem muito pouco...”, brinca. Mas fala sério quando destaca que um cão-guia, muito mais do que conduzir com segurança as pessoas com deficiência visual, a insere entre as pessoas que, por educação ou herança cultural, não sabem como lidar com pessoas com deficiência. “Muitas vezes, querem se aproximar, conversar, conhecer, oferecer ou até pedir ajuda, mas não sabem como; o cão, aquela criaturinha irradiando bondade, atrai a todos e serve de ponte, de motivo para iniciar a conversa”, destaca. Regina define o cão-guia como sendo mais do que uma ajuda técnica eficiente, mas um ser vivo, inteligente e emotivo, com quem se estabelece um pacto mútuo. “Apenas uma minoria das pessoas cegas quer ou consegue fazer parte de uma dupla bem sucedida. No entanto, se quiser mesmo, se entender que o sucesso depende tanto de si quanto dos demais fatores em questão, então, vai ter um substancial ganho em termos de qualidade de vida”, declara.
O irmão de Regina, o economista e professor Luiz Alberto Melchert de Carvalho e Silva, também utiliza cão-guia, desde 1974. Hoje tem a Honney, retriever preto, que será substituída, em breve, por Ypsilon, labrador amarelo, que está sendo treinado. Para ele, seu cão-guia é parte de si, pois além de guiar, o que lhe confere absoluta liberdade, o cão também o aproxima das pessoas, contribuindo de forma efetiva para sua plena inclusão. “Essa capacidade de ir e vir, com total independência, faz com que a sociedade me veja de forma diversa da que veria se eu dependesse da bengala”, afirma. Luiz Alberto destaca a divulgação do uso do cão-guia durante a novela “América”, transmitida recentemente pela Rede Globo. “Antes da novela, a maior dificuldade era usar o cão em locais em que geralmente se proíbe sua entrada. Depois da divulgação, a coisa mudou da água para o vinho. Comparando-se com o período anterior, o acesso já é superado”. Ele afirma que algumas pessoas cegas lhe perguntam se podem andar despreocupadas pelas ruas, ao que ele responde que se trata de uma dupla que anda, não somente o cão ou somente o cego. “Os dois devem estar muito atentos o tempo todo para tirar o máximo proveito da companhia um do outro”, ensina. Por ter cães-guias há mais de 30 anos, Luiz Alberto já lidou várias vezes com um fator inevitável, a morte do cão. Ele ensina como enfrentar o momento da separação. “Mantenho meus cães aposentados comigo até o dia de irem embora, ocasião que faço questão de estar presente, amparando-os no último instante. Já passei por isso duas vezes e é muito doloroso, mas jamais me furtarei a essa obrigação com quem dedicou sua vida a mim”.
Canil Sambucan
Site: www.sambucan.com.br
Tel.: (11) 4704.3587
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Brasil tem 60 cães guias para 2 milhões de deficientes visuais
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Quando Bóris, um Labrador de dez anos, se aposentou, no final de 2008, Thays Martinez, 35, precisou encontrar um novo companheiro de caminhada. O escolhido foi Diesel, 2, da mesma raça. "Estamos nos adaptando, e ele é excelente", afirma a advogada, que perdeu a visão aos quatro anos e foi pioneira no uso de cão guia para se locomover em São Paulo.
Adaptação, no caso, é aumentar a sintonia entre ambos, para que o animal leia automaticamente os comandos da dona.
No Dia Internacional do Cão Guia, comemorado em 29 de abril, lá estava Diesel, que estreou na função há quatro meses, no shopping Iguatemi, em São Paulo. Ele participou do evento de conscientização promovido pelo Instituto de Responsabilidade e Inclusão Social (Iris), fundado por Thays em 2002.
Ela ficou conhecida como a "moça do cão guia" por ter sido barrada no metrô de São Paulo em maio de 2000. Saiu vitoriosa de uma batalha judicial que fez de Boris o primeiro animal autorizado a guiar um cego pelos trens urbanos da cidade. Um marco na garantia do direito de ir e vir dos deficientes visuais.
Há muito a conscientizar e pouco a festejar sobre o assunto. Treinado nos Estados Unidos, Diesel é um dos 60 cães que guiam deficientes no Brasil, enquanto existem quase 2 milhões de cegos no país, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Só no Iris, mais de 2 mil pessoas esperam na fila por um cão guia. Um dos motivos da espera é que poucas Organizações Não-Governamentais brasileiras se dedicam ao treinamento. É o caso do Instituto de Integração Social e de Promoção da Cidadania, localizado em Brasília, que desenvolve o projeto Cão Guia de Cegos, desde 2002, em parceria com o Corpo de Bombeiros do Distrito Federal.
De lá, saíram 26 cães guias que estão espalhados pelo Brasil. "Podemos capacitar mais, só que faltam recursos", diz Michele Pöttker, coordenadora do projeto que tem patrocínio de empresas como Bayer e Premier.
A Ong tem mais de 250 pessoas cadastradas para receber um cão. "O treinamento e a manutenção de cada animal custam em torno de R$ 20 mil para a entidade", estima Michele. O usuário não paga pelo cão. As únicas despesas são de alojamento e alimentação no período de adaptação, que dura de 15 a 25 dias. A diária fica em torno de R$ 60.
Já o Iris não realiza treinamento completo no Brasil. O instituto paulistano fez uma parceria com a Leader Dogs, escola de treinamento de Detroit, nos Estados Unidos. "A escola nos doa oito cães por ano, e conseguimos, a duras penas, mandar os deficientes para lá", explica Thays. O parceiro brasileiro banca passagens e um dossiê em inglês contendo informações e imagens do usuário.
O processo esbarra na falta de recursos. "Se fizéssemos o treinamento por aqui, seria menos burocrático e mais deficientes teriam cão guia", afirma. Em 2009, o Iris deve enviar mais oito cegos aos EUA.
O advogado Genival dos Santos, 30, foi um dos deficientes apadrinhados pelo Iris. "Em 2006, fui aos EUA ''''buscar'''' meus olhos." Layla, uma Labrador de três anos e meio, possibilita a vida agitada de Genival. "Ela me acorda todos os dias às 6h. Vamos a uma praça para que faça suas necessidades e seguimos para o trabalho", conta.
Genival trabalha em um banco na Avenida Paulista que, segundo ele, trata Layla como "funcionária". "Ela tem uma graminha especial, dentro do banco, para fazer xixi quando der vontade."
Morador do Jabaquara, ele usa o metrô diariamente e fez amigos pelo trajeto. Mas ainda sofre com a desinformação da população: "Layla é sempre distraída pelas pessoas. Acham que ela não saberá me conduzir na escada rolante e na entrada do trem".
Incidente no metrô
A boa vontade pode atrapalhar. Há poucos dias, Genival tropeçou quando ia entrar no metrô justamente porque um passageiro tentou lhe dar a mão. "As pessoas não confiam no cão guia", constata.
Para o treinador Moisés Vieira Jr., há 13 anos na função, a principal característica que um animal deve ter para virar guia é ser fiel ao dono. "Todo cão pode aprender, desde que seja bem treinado e que tenha um comportamento que mescle segurança e obediência."
Foram tais qualidades de Bóris que conquistaram Thays. O cão guia era sua sombra e adivinhava suas vontades. O sinal de que era hora de aposentá-lo veio depois de um incidente: Bóris não conseguiu desviar a dona de uma escada em plena Avenida Paulista.
Resultado: ela bateu a cabeça na escada. "Eu chorava de tristeza, e as pessoas achavam que era de dor", conta Thays, que se deu conta de que era hora de dar descanso a quem lhe serviu tanto.
Para ser um cão guia
- O animal deve ter comportamento dócil e estável, além de ser sociável, atencioso, obediente e de não se distrair facilmente.
- No Brasil, o Labrador é a raça mais utilizada, seguida do Golden Retriever e do Pastor Alemão, que é a preferida no exterior.
- O cão selecionado vai para a casa de uma família, onde permanece por até dez meses. Em seguida, volta para a escola e fica de seis meses a um ano em treinamento específico com os treinadores.
- Por fim, o animal treinado passa por um processo de adaptação ao usuário, de forma que o deficiente encontre um cão adequado às suas necessidades.
Fonte: Folha Online
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