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Professora de Libras é a 1ª aluna surda a defender mestrado na UFG
quinta-feira, fevereiro 18, 2016Fonte: http://g1.globo.com/goias/noticia/2016/02/professora-de-libras-e-1-aluna-surda-defender-mestrado-na-ufg.html
Professora de Libras é a 1ª aluna surda a defender mestrado na UFG
Renata Garcia, 40, teve ajuda de intérpretes para apresentação, em Goiás.
Ela foi aprovada com pesquisa sobre qualidade de vida de pessoas surdas.
A professora de Língua Brasileira de Sinais (Libras) Renata Rodrigues de Oliveira Garcia, de 40 anos, é a primeira surda a defender uma dissertação de mestrado na Universidade Federal de Goiás (UFG). Ela foi avaliada por uma banca, na manhã desta quinta-feira (18), em Goiânia, quando apresentou, com ajuda de intérpretes, sua pesquisa sobre a qualidade de vida das pessoas com deficiência auditiva no ambiente familiar.
Renata, que foi a primeira aluna surda do programa de pós-graduação em Ciências da Saúde, da Faculdade de Medicina da UFG, se emocionou ao saber que foi aprovada.
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“Estou muito feliz por ter chegado até aqui, apesar das dificuldades. Escolhi falar sobre esse tema, pois fui criada em uma família de ouvintes e sei como é complicado para que os surdos se comuniquem e tenham uma vida como todos os outros. Faltavam estudos sobre essa questão no Brasil”, disse ao G1, por meio de uma intérprete.
Na pesquisa, ela descobriu, por meio de questionários aplicados a surdos e aos seus familiares ouvintes, quais as principais barreiras entre as relações. “Descobri que a surdez não é o problema, pois os surdos se comunicam muito bem em Libras ou leitura de lábios, pois eles têm o visual. A dificuldade maior é que eles se façam entendidos pelos ouvintes. Essa questão é muito importante para a qualidade de vida”, explicou a professora durante a apresentação.
Após defender sua dissertação, ela acompanhou atenta as considerações dos componentes da banca e foi muito elogiada pelo esforço e dedicação em se adaptar em um ambiente que, até então, não tinha sido explorado por um surdo na universidade.
Orientador da pesquisa, o fundador do programa de pós-graduação em Ciências da Saúde, professor doutor Celmo Celeno Porto, destacou que a dissertação “é um marco para a instituição e para a comunidade surda”.
“Ser orientador dessa pesquisa foi algo muito gratificante para mim, pois eu não sabia como seria possível a nossa comunicação, foi um desafio. Mas a Renata foi uma aluna muito dedicada, esforçada, fez acontecer, e eu aprendi muito com ela. Ter a primeira surda defendendo a sua tese de mestrado mostra que novas maneiras de inclusão devem ser pensadas e praticadas na educação”, disse Porto.
Desafios
Nascida em Goiânia, Renata contou que a surdez dela foi descoberta quando tinha 2 anos. Preocupados, os pais procuraram meios para que ela se desenvolvesse e pudesse estudar. Como não existiam muitos recursos para inclusão de deficientes na época, eles a colocaram em escolas particulares, mas ainda assim ela precisou se adaptar ao ambiente escolar.
Nascida em Goiânia, Renata contou que a surdez dela foi descoberta quando tinha 2 anos. Preocupados, os pais procuraram meios para que ela se desenvolvesse e pudesse estudar. Como não existiam muitos recursos para inclusão de deficientes na época, eles a colocaram em escolas particulares, mas ainda assim ela precisou se adaptar ao ambiente escolar.
“A minha infância inteira apenas me comunicava por meio de gestos e leitura labial, mas sempre ia a médicos, fonoaudiólogos, buscando meu desenvolvimento. Só aos 19 anos tive contato com outros surdos, em uma associação, e descobri a Libras. Meu aprendizado nessa linguagem foi tardio, mas meus pais e duas irmãs entenderam a minha necessidade e isso foi importante”, relatou a professora.
Meu sonho é fazer um doutorado. Esse será meu objetivo daqui para a frente"
Renata Garcia, 1ª aluna surda de pós-graduação da UFG
Após concluir o ensino médio, Renata se graduou em artes plásticas pela UFG. Depois, ela decidiu cursar Letras-Libras pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). As aulas eram ministradas à distância, em um polo no Instituto Federal de Goiás (IFG). Em 2011, ela se tornou professora de Libras na Faculdade de Letras da UFG, onde trabalha atualmente.
Apesar das duas graduações, a professora queria ir além e passou a integrar o programa de pós-graduação em Ciências da Saúde. Ela acompanhou as aulas como todos os demais participantes e, nos últimos quatro meses, contou com a ajuda de intérpretes de Libras para se comunicar com o orientador e tirar dúvidas sobre a pesquisa.
Uma delas foi Williane de Oliveira, de 26 anos, que integra o núcleo de Libras da UFG. Segundo ela, que também é filha de pai surdo, a experiência de ajudar a professora foi muito gratificante. “Foi uma experiência nova e complexa, já que existem muitos termos técnicos e é difícil muitas vezes transmitir todos os detalhes da comunicação. Mas a Renata entende plenamente bem o que os ouvintes falam e, quando tinha dúvidas, perguntava. Ela se esforçou muito”, relatou.
Além de Williane, a intérprete de Libras Jakeline Goulart, de 22 anos, também auxiliou a professora durante a defesa da dissertação de mestrado. “Estou muito feliz por ela”, disse.
Orgulho
Além dos docentes, familiares e amigos surdos de Renata estiveram presentes na apresentação. Orgulhoso, o marido dela, Gilmar Garcia, que também é surdo e com quem é casada há 15 anos, fez questão de destacar, em Libras, que a professora se dedicou muito à tese.
Além dos docentes, familiares e amigos surdos de Renata estiveram presentes na apresentação. Orgulhoso, o marido dela, Gilmar Garcia, que também é surdo e com quem é casada há 15 anos, fez questão de destacar, em Libras, que a professora se dedicou muito à tese.
“Hoje é um dia especial, é o dia da Renata. Eu vi de perto o esforço dela para atingir esse objetivo. Ela conseguiu. Te amo muito”, disse ele ao entregar um buquê de rosas à esposa.
Pai da professora, o advogado Humberto de Oliveira, de 67 anos, também fez questão de parabenizar. “Estou muito orgulhoso dela. Foram muitas dificuldades, principalmente na infância, pois naquela época não tinham muitas opções de inclusão. Mas ela se adaptou à realidade dos ouvintes e hoje tem muita facilidade em tudo o que faz. Ela sempre foi dedicada e somou muitos resultados positivos”, afirmou.
A mãe de Renata, a dona de casa Divina Rodrigues de Oliveira, de 67, disse que estava “repleta de felicidade”. “Eu nunca imaginei que ela chegaria tão longe, mas a gente sempre trabalhou para que ela chegasse lá. Mesmo assim o mérito é todo dela, que mereceu estar onde está agora”, ressaltou.
Para a professora, o mestrado ainda não é o limite. “Meu sonho é fazer um doutorado. Esse será meu objetivo daqui para a frente”, conclui Renata.
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