eu e Libras
Confraternização do Curso de Libras módulo II na EEPG Humberto Brasi
quinta-feira, julho 19, 2012
Confraternização do curso de Libras oferecido pela prefeitura de Mogi Mirim. Módulo I e Módulo II reunidos para esta belíssima foto. Galera, amei estar com vocês!!! Ano que vem tem mais... Se a nova gestão continuar este trabalho, pois estamos em ano eleitoral e a prefeitura terá novos administradores!!! |
Fonte: http://cronicasdasurdez.com/as-injusticas-sofridas-por-quem-tem-deficiencia-auditiva/
As injustiças sofridas por quem tem deficiência auditiva
Não é mole, viu? Apesar de fazer o maior esforço para não publicar coisas pessimistas por aqui, hoje decidi fazer uma compilação de vários momentos ‘ninguém merece’ pelos quais nós passamos! É impressionante perceber as diversas maneiras através das quais um deficiente auditivo – com o perdão da palavra – se ferra. Nenhuma outra deficiência é tão injustiçada quanto a nossa. Duvida?
- O deficiente auditivo quer comprar um carro. Aí descobre que a deficiência auditiva é a única deficiência que NÃO tem direito a desconto no IPI e ICMS e muito menos isenção de IPVA. Nem Freud explica! Até mesmo pessoas com deficiência que não podem dirigir veículo automotor têm direito a esses descontos.
- O deficiente auditivo faz o seguro do carro. Caso se acidente, não tem como contatar nem polícia, nem bombeiros e muito menos o seguro – afinal, o único modo de contato é aquela inutilidade chamada ’0800 especial para deficientes auditivos e da fala.
- O deficiente auditivo abre conta num banco e paga as tarifas como qualquer cliente, mas não tem como se comunicar com o banco fora do horário de expediente, a não ser que cometa fraude pedindo para alguém fingir que é ele ao telefone.
- O deficiente auditivo tem cartão de crédito, mas não tem como se comunicar com o mesmo – a não ser depois de fazer vários barracos e conseguir ser atendido por email, embora, obviamente, esse atendimento fique limitado a dias de semana e horário de expediente.
- O deficiente auditivo decide cursar uma faculdade, mas não tem acessibilidade alguma. Ninguém nunca ouviu falar em sistema FM, hearing loop, legendas. E os professores ficam brabos se você pede para que eles falem de frente para poder ler seus lábios. Entretanto, se solicitar um intérprete de língua de sinais, será prontamente atendido. Quem entende isso?
- O deficiente auditivo vai enfrentar fila numa repartição pública, aeroporto, banco ou loja, e quase sempre paga mico porque ou não tem aviso luminoso, ou tem mas criaturinhas não usam. Será que eles acham que deficientes auditivos são lenda urbana?
- O deficiente auditivo vai pegar um avião, mas periga de perder o mesmo porque quando trocam o vôo de portão ou alteram o horário, avisam pelo alto falante.
- Se o deficiente auditivo tiver a audácia de entrar numa fila especial para deficientes, vai ser constrangido e humilhado: sempre tem um infeliz que vem perguntar porque diabos você está ali, ou, pior, quando você explica que tem deficiência auditiva quase tem que mostrar as orelhas pro idiota ‘acreditar’ no fato.
- Se o deficiente auditivo decide ir ao teatro, é quase certo que vá precisar criar os diálogos na sua própria cabeça. Acessibilidade? Bobagem, estão querendo demais.
- Se o deficiente auditivo inventa de enfartar sozinho em casa, pobrecito. Vai chamar a ambulância como? Com a força do pensamento? Afinal, ambulâncias, bombeiros, SAMU, polícia e outros serviços de necessidade básica não atendem através de SMS de jeito nenhum!
- O deficiente auditivo chega em casa e quer assistir ao noticiário local, mas as emissoras regionais acham que closed caption é coisa do diabo, já que até hoje nenhuma disponibilizou.
- O deficiente auditivo vai ao cinema assistir a um filme nacional que teve patrocínio estatal (o qual ele possivelmente ajudou a pagar com os seus impostos), mas fica boiando porque os manés pouco se importam se ele precisa de legenda para entender o que é dito.
- O deficiente auditivo faz um plano de saúde, mas é claro que o plano não tem atendimento via chat ou SMS. O único jeito de conseguir marcar consulta médica ou exames é pedindo para um parente/amigo/colega fazer isso por ele. Independência e autonomia? Só é direito de quem ouve!
- O deficiente auditivo decide gastar uma grana fazendo cursinho preparatório para concursos. Aí descobre que as vídeo-aulas não têm legendas simplesmente porque ninguém achou que isso seria necessário.
- O deficiente auditivo resolve pagar caro por um plano de TV a cabo. Aí, sem aviso prévio, sem eira nem beira, descobre que a TV a cabo decidiu dublar todos os seus seriados favoritos. O problema não é a dublagem, mas sim a falta de opção de legenda, oras!
- O deficiente auditivo acha que é hora de comprar aparelhos auditivos novos e com tecnologia atual. Então, fica sabendo que a única ajuda que o governo oferece é um financiamento com juros reduzidos. Super justo, quando esse mesmo governo cobre de isenções e descontos outras próteses, outras deficiências e outras doenças. Fazer o que?
- O deficiente auditivo quer marcar uma hora num consultório de otorrinolaringologistas ou fonoaudiólogos. Constata que o consultório não tem atendimento via chat (embora tenha, claro, um site lindo) e, ao chegar lá, fica na sala de espera aguardando e se depara com uma TV sem o closed caption ativado. Osso duro de roer…
- O deficiente auditivo, azarado, fica preso no elevador. Começa a rezar pro anjo da guarda, afinal, hearing loop em elevador no Brasil é uma coisa tão improvável quanto ganhar na mega sena.
- O deficiente auditivo cacifa (leia-se $$$$) uma palestra bem cara para se atualizar profissionalmente. Chegando lá, descobre que não há nenhum tipo de acessibilidade para ele. Tudo indica que os deficientes auditivos só trabalham em sub-empregos, certo? Afffffffffffff!
- O deficiente auditivo vai viajar. Ao chegar no hotel, descobre que serviço de quarto, só pelo telefone, e despertador vibratório, eles nunca ouviram falar e nem sabiam que existia. Mesmo que o hotel se diga ‘acessível’.
- O deficiente auditivo vai visitar um amigo. Ao chegar no prédio, constata que o interfone não tem vídeo e se vê naquela infeliz situação de ficar fazendo força na porta pra adivinhar quando o amigo a está abrindo…
- O deficiente auditivo participa de uma reunião no trabalho. Na qual nenhum colega se dá ao trabalho de pensar em acessibilidade ou sequer falar de frente para ele.
- O deficiente auditivo faz um esforço sobre-humano para ficar de aparelho auditivo em casa depois de um dia estafante e cheio de barulhos chatos no trabalho e na rua. A família pergunta, insistentemente “Você está de aparelho? Então como não ouviu o que eu disse?”.
- O deficiente auditivo mora sozinho e vai dormir. O alarme do seu carro dispara. Os vizinhos sabem que ele está em casa, tocam na campainha, não obtém resposta. Aí arrombam a porta do seu apartamento. E quase matam o cara de susto!
- O deficiente auditivo se matricula num curso de inglês. A prova escrita ele tira de letra, mas a prova oral envolve ouvir e entender o que uma gravação de CD diz. Não é fácil…
- O deficiente auditivo deve comparecer a uma audiência no foro da comarca da sua cidade. Acessibilidade zero e ainda por cima juiz, promotor e advogados falam baixinho e sem articular os lábios decentemente.
- O deficiente auditivo conhece alguém e a pessoa pede o número do seu celular. Quando ele avisa educadamente ‘por favor me envie torpedo pois não escuto no telefone’ quase sempre tem como resposta ‘como assim você não escuta ao telefone? que coisa mais estranha!’ junto com um par de olhos arregalados e uma expressão de pavor.
- O deficiente auditivo se inscreve na auto-escola. O instrutor o trata como um alien. E quando tira a carteira de motorista, ela diz “uso obrigatório de otofone ou prótese auditiva”. Otofone. OIII???
E então gente?? De quais outros “momentos ninguém merece” eu esqueci? Já pros comentários pra completar a lista!!!
eu e Libras,
Isso daria um livro?,
minha luta pelos surdos
Eu fui surda por um dia
domingo, julho 08, 2012Ontem dia 07 de julho de 2012, fui ao encontro de Surdos e Intérpretes em São Paulo na Assembléia de Deus do bairro Belenzinho.
Surdos recebiam crachás amarelos e ouvintes recebiam crachás verdes. Eu preenchi minha inscrição como sendo surda e recebi meu crachá amarelo. As crianças também receberam crachás amarelos. Combinamos que eles seriam filhos de uma surda naquele dia, já que sabem um pouco de Libras.
Apesar todo o aparato e respaldo de intérpretes que sabiam e conheciam muito bem Libras, o cara da livraria não conseguiu me vender um livro porque não entendia nada do que eu sinalizava. Por mais que eu fizesse sinais simples, caseiros, NADA. E ainda comentou com o amigo dele: "Eu não entendo nada dessa mímica que os surdos-mudos fazem." - MÍMICA? MUDOS? Ele já deveria saber o que é Libras e que pessoas surdas NÃO SÃO MUDAS Helloooooooooooooooooooooooooooo!!!
Outra hora desagradável foi quando nos dirigimos ao refeitório. O organizador da fila não sabia falar português direito, imagine Libras, de tão grosso que era. Eu tentava explicar que estava com as crianças, que elas eram ouvintes, não queria me separar deles, também estava com o meu olho esquerdo recém operado e não queria me separar do grupo das minhas alunas ouvintes. Ele nem deu bola para o que eu falei e fez sinal para afastar. Eu fiz que não entendi, como sempre acontece com os surdos. Ele muito grosso e sem paciência, simplesmente me empurrou para trás. Eu tive vontade até de chorar na hora ou avançar no pescoço dele, mas não podia. Eu era surda naquele momento.
Foi então que apareceu um moço para amenizar a situação e eu tentei me comunicar com ele. Mas ele não sabia Libras. Disse para a organizadora ao lado: "Eu sempre bóio com esses surdos. Corre lá e chama um intérprete". Mas minhas amigas ouvintes me "ajudaram" e pudemos entrar todos juntos.
Terminado esse incidente. Subimos para a palestra e contei tudo a uma organizadora do evento o que tinha acontecido. Ela foi muito gentil, disse que iria levar isso adiante, que essas coisas não podem acontecer, etc. Mas ela era surda. Fiquei junto com ela pra ver se ela iria levar adiante mesmo Ela até que tentou, mas toda vez que ela tentava explicar o acontecido a um intérprete ouvinte, eles estavam ocupados. Senti desprezo da parte dos intérpretes ouvintes ou talvez tenha sido impressão.
E o que me deixou mais triste, foi em que numa das palestras, ouvi que os ouvintes começam a frequentar a comunidade surda e ficam nela por mais ou menos quatro ou cinco anos. Tempo suficiente para aprenderem Libras e simplesmente desaparecerem. Como assim? Surdos se apegam, se tornam amigos, se propõem a ensinar a Libras e depois são esquecidos? Então não foi impressão quando senti desprezo da intérprete ouvinte em relação à organizadora surda que ouviu minha queixa. Esta intérprete ouvinte deveria ser uma das que estão abandonando a comunidade.
O encontro valeu à pena, aprendi vários sinais, conheci vários surdos, mas percebi que estamos muito mais atrasados do que imaginei.
Eu gosto muito da companhia dos surdos, de bater papo, muito mesmo. Uma pena os ouvintes quererem se aproveitar de uma comunidade que luta para ter seus direitos reconhecidos.
Mas vou continuar lutando.