Fonte: http://www.leonarde.pro.br/victoroselvagem.pdf
Victor, o
“selvagem de Aveyron”
O
"menino selvagem" Victor de Aveyron é um dos casos mais conhecidos de seres
humanos criados livres em ambiente selvagem. Provavelmente abandonado numa
floresta aos 4 ou 5 anos, foi objeto de curiosidade e provocou discussões
acaloradas principalmente na França, onde o caso ocorreu.
Sua
história oficial começa em 1797, quando um menino inteiramente nu, que fugia do
contato com as pessoas, foi visto pela primeira vez na floresta de Lacaune. Em 9
de janeiro de 1800 foi registrado seu aparecimento num moinho em Saint-Sernein,
distrito de Aveyron.
Tinha a
cabeça, os braços e os pés nus; farrapos de uma velha camisa cobriam o resto do
corpo. Era um menino de cerca de 12 anos de idade, media 1,36 m, tinha a pele
branca e fina, rosto redondo, olhos negros e fundos, cabelos castanhos e nariz
comprido e aquilino. Sua fisionomia foi descrita como graciosa; sorria
involuntariamente e seu corpo apresentava a particularidade de estar coberto de
cicatrizes. Victor não pronunciava nenhuma palavra e parecia não entender nada
do que falavam com ele. Apesar do rigoroso inverno europeu, rejeitava roupas e
também o uso de cama, dormindo no chão sem colchão.
Quando
procurava fugir, locomovia-se apoiado nas mãos e nos pés, correndo como os
animais quadrúpedes.
Estudo
sociológico do caso:
Alguns
médicos, como os franceses Esquirol (1772-1840) e Pinel (1745-1826),
diagnosticaram o menino selvagem como idiota (nomenclatura que hoje corresponde
à deficiência mental grave). Talvez por essa razão tenha sido abandonado pelos
pais.
O
médico psiquiatra Jean-Marie Gaspard Itard, diretor de um instituto de
surdos-mudos, não compartilhava da opinião dos colegas. Propôs uma questão:
Quais as conseqüências da privação do convívio social e da ausência absoluta da
educação social humana para a inteligência de um adolescente que viveu assim,
separado de indivíduos de sua espécie?
Ele
acreditava que a situação concreta de abandono e afastamento da civilização
explicava o comportamento diferente do menino Victor, contrapondo-se ao
diagnóstico de deficiência mental para o caso.
Em seu
livro A educação de um homem selvagem, publicado em 1801, Itard apresenta seu
trabalho com o menino selvagem de Aveyron, descrevendo as etapas de sua
educação: ele já é capaz de sentar-se convenientemente à mesa, tirar a água
necessária para beber, levar ao seu benfeitor as coisas de que necessita;
diverte-se ao empurrar um pequeno carrinho e começa também a ler. Cinco anos
mais tarde já fabricava pequenos objetos e podava as plantas da casa. A partir
desses resultados Itard reforçou sua tese de que os hábitos selvagens e a
aparente deficiência mental iniciais eram apenas e tão-somente resultados de uma
vida afastada de seus semelhantes e da civilização.
Acompanhando de perto e trabalhando vários anos com
Victor para educa-lo, Itard formula a hipótese de que a maior parte das
deficiências intelectuais e sociais não é inata, mas tem sua origem na ausência
da socialização, na falta de comunicação com os semelhantes principalmente pela
palavra. Aproximando-se da visão sociológica dos fatos sociais, o pesquisador
concluiu que o isolamento social prejudica a sociabilidade do indivíduo. E a
sociabilidade é a base da vida em sociedade.
Os
estudos de Itard reforçam um dos fundamentos da Sociologia: os fatos sociais,
embora exteriores, são introjetados pelo indivíduo e exercem sobre ele um poder
coercitivo, já que determinam seu
comportamento.
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